O ataque do Corinthians é ruim?
Afinal, o Corinthians tem peças fracas para o ataque no elenco?
Já conversei com muitas pessoas sobre isso, já trouxe pontuações em tópicos nas redes sociais, local inclusive que é mais difícil trazer essa discussão à tona, pois é um local de muita polemização e muitas pessoas estão condicionadas ao pensamento passional.
Não acho que os atacantes sejam fracos, só acho que o time não é montado de uma forma que potencialize as características dos jogadores que temos hoje.
Nesse post vou trazer minha visão e alguns dados para apoiar no entendimento do meu ponto de vista.
Atualmente, o elenco conta com Yuri Alberto e Pedro Raul para a função de "Camisa 9", completando as opções para o ataque temos Romero, Pedro Henrique, Wesley e Giovane.
Olhando para o Brasileiro, temos 10 gols desses jogadores em 20 jogos (média de 0,5 gols por jogo), muito pouco para quem pretende figurar em posições mais altas na tabela.
Olhando para o ano de 2024, a média de gols por jogo salta para 1,5:
Yuri Alberto: 16 gols
Romero: 11 gols
Wesley: 5 gols
Pedro Raul: 3 gols
Giovane: 2 gols
Yuri que é o artilheiro do time, tem a mesma quantidade de gols que Flaco López (16 - Palmeiras), mais gols que Calleri (12 - São Paulo) e Julio Furch (6 – Santos) na comparação com os rivais paulistas.
Dos clubes da série A, Yuri é o 8º na artilharia em 2024, atrás de alguns nomes como Pedro (Flamengo), Lucero (Fortaleza), Junior Santos (Botafogo), Mastriani (Athletico/PR).
Outro fato, no Corinthians Yuri é um dos que mais finaliza, tem uma média de 3,7 chutes/por jogo, mas peca na efetividade, quem mais tenta, tem mais chances de errar e por isso acredito que é o que mais sofre, pois é aquele que não se esconde.
Outro dia, vi um story em uma rede social onde o ex-atacante Luizão fazia uma análise do atual camisa 9 do Corinthians, dizendo que ele não é um centroavante. Concordo.
Basta ver que no Internacional, Yuri jogava ao lado de Thiago Galhardo, que eram quem tinha esse papel de centroavante.
É inegável que ele é muito voluntarioso, vontade não falta, exemplo o último jogo que fez atuando com dores abdominais, (provenientes de um quadro de pedra na vesícula), porém ele acaba correndo errado, se afastando muito da área para buscar a bola e precisando muitas vezes enfrentar os zagueiros em combates frontais, onde precisa do drible ou até mesmo um enfrentamento 'corpo a corpo' com os zagueiros, essas não são suas principais características.
O Yuri se destacou, especialmente no Internacional, pela explosão, pelo ataque em diagnonal nos espaços da zaga. Ele não é um jogador driblador ou que vai ganhar na trombada com os zagueiros, inclusive, não me lembro de uma trombada que ele tenha vencido (rs). Ele precisa atuar ao lado de alguém que jogue como referência, que vai fazer o pivô para ele passar ou chamar atenção da zaga e abrir espaços para uma bola enfiada em diagonal.
O que acaba acontecendo com muita frequência nas partidas do Corinthians é um estilo de jogo muito pelas laterais do campo, "chuveirando" constantemente a bola dentro da área. Como o Yuri precisa sair demais para buscar jogo, em muitos dos cruzamentos ou ele não está dentro da área ou não está no posicionamento ideal para aproveitar o lance.
Essas constantes saídas para buscar jogo e recompor a defesa, cobram um preço alto e muitas das vezes ele não está em condições ideiais para finalizar, protagonizando muitas vezes, chutes um tanto quanto bisonhos.
Mas, e o Pedro Raul?
Vi uma notícia essa semana onde o Corinthians "Admite que errou na contratação de Pedro Raul", porém eu tenho fortes ressalvas quanto à contratação realmente ser um erro. Assim como o Yuri Alberto, acho que o Pedro Raul também joga errado e o esquema não favorece suas características, e pra mim, esse é o principal erro do Corinthians.
Na gestão de um time, de pessoas em uma forma geral, você precisa encontrar o jogo que mais favorece as características dos profissionais que você tem ao seu redor. Talvez, a posição do clube esteja embasada no padrão que é esperado pela diretoria em campo, nesse sentido eu posso concordar com o erro, porém essa exposição só atrapalha a vida (nada fácil) de um jogador que não consegue ter boas atuações.
Na minha opinião, Yuri Alberto e Pedro Raul PODEM SIM jogar juntos e renderiam muito mais jogando assim (acho que isso só aconteceu 2 ou 3 vezes, ainda com o Mano Menezes, sem o Garro). Daria para armar o time no 4-4-2 tradicional ou em um 3-5-2 como jogou por 2x agora com o Ramon Diáz, enfim, entendo a posição da torcida que já viu Luizão, Guerrero, Viola, Vagner Love e outros em questionar a capacidade dos jogadores atuais, mas é preciso entender um pouco além dos resultados.
Pedro Raul foi vice artilheiro do brasileiro em 2022 com 19 gols jogando pelo Goiás, só ficando atrás de Germán Cano em uma temporada primorosa com 26 gols, feito essa alcançado jogando muitas vezes no 4-4-2 com Vinicius ao seu lado, atuando como: SEGUNDO ATACANTE (posição em que o Yuri Alberto poderia ser melhor aproveitado.
Na carreira, Pedro Raul sempre teve médias de gols/por jogo na casa de 0,25 – 0,36, sendo que a maior foi em 2022 com média de 0,52 gols/por jogo. Não acredito que jogar algum atinja esses números e seja ruim, é uma avaliação muito rasa sobre o trabalho de um profissional.
Só para fazer um paralelo aqui, porque às vezes como torcedores cobramos muito dos jogadores, esperando um desempenho excepcional, mas esse não é o padrão brasileiro. Para isso, vamos pegar alguns exemplos de goleadores históricos, temos:
Ibrahimovic: Média de 0,58 gols/por jogo
Ronaldo Fenômeno: Média de 0,67 gols/por jogo
Cristiano Ronaldo: 0,72 gols/por jogo
Messi: 0,78 gols/por jogo
Erling Haaland: 0,81 gols/por jogo
Se formos olhar para a história do próprio clube, o jogador com a média de gols mais próxima na história recente, é justamente o Luizão (citado à pouco) com média de 0,70 gols/por jogo (Média atuando pelo Corinthians, na carreira a média é de 0,4 gols/por jogo). Atualmente, no futebol brasileiro, quem se destaca é Pedro com média de 0,71 gols/por jogo.
Só lembrando que não estou comparando Pedro Raul com nenhum deles, estou trazendo dados para elucidar, como às vezes, no calor da emoção pelo clube, achamos que qualquer jogador vai ser um R7 ou R9, mas não vai. Vamos ter jogadores que são fora da curva, como os citados aqui e outros que estarão na faixa mediana, com destaque maior em uma ou outra temporada.
O ponto central é, que olhando para a carreira do Pedro Raul, ele tem uma média de gols que podemos considerar "razoável" para o futebol brasileiro e que a atuação do jogador, depende muito de N fatores além da sua capacidade (que no caso de um meia como Rodrigo Garro com maior habilidade conseguem superar, mas não é o caso do Pedro Raul, que não é jogador de drible, que se dá bem na individualidade), e o principal deles é se o técnico está utilizando o esquema que lhe favorece.
Pegando outro exemplo recente que, para mim, saiu injustiçado do time e com uma exposição totalmente desnecessária (com a demissão exibida no Globo Esporte), é Mauro Bosselli. Na carreira toda, ele tem uma média de 0,42 gols/por jogo, mas no Corinthians não encontrou uma equipe que lhe favorecesse taticamente e encerrou sua passagem com média de 0,23 gols/por jogo, para depois encerrar a carreira no Independiente/ARG com média de 0,40 gols/por jogo. Saiu com boa parte da torcida falando que ele era ruim, não servia para o Corinthians, os dados mostram o contrário.
Enfim, podemos continuar batendo no Pedro Raul e Yuri Alberto, mas é preciso ter clareza que nenhum dos dois serve para o estilo de jogo atual do Corinthians, onde o jogador que deveria ser a referência, tem que voltar antes do meio campo para buscar a bola e sair driblando a defesa. O Corinthians precisa utilizar um esquema tático em que ambos joguem juntos e tenham suas principais características exploradas, com Pedro Raul mais fixo no ataque e Yuri Alberto flutuando como segundo atacante e atacando os espaços na defesa, porém, tem muito torcedor que ainda não está pronto para essa conversa.